Pelas Janelas da Memória

De tempos em tempos, precisamos de um pouco de aconchego e, por que não, de um tantinho de conforto ao nos deslocarmos pela cidade. Moro num lugar cheio de andantes, mas, numa cidade barulhenta, de carros buzinantes e motos ensurdecedoras, às vezes é preciso deixar de lado o prazer de caminhar e ocupar, com dignidade, nosso lugar de direito no transporte público. É fascinante entrar num ônibus. Sim, eu gosto! Mesmo quando ele está cheio de pessoas estressadas e cansadas ou com o ar-condicionado quebrado em dias de calor escaldante. Sempre há a chance de se aconchegar perto da janela e observar o mundo passar lá fora, ligeiro, como num passe de mágica. E, mesmo quando se viaja em pé, há aquela sensação meio boba — mas divertida — de estar numa montanha-russa sem cinto de segurança e sem hora certa para parar. É só você, a sorte de contar com um motorista experiente e calmo, e a esperança de pegar um trânsito razoável. É sério! Pode ser bem divertido, se você não estiver com pressa — e mais ainda, se estiver com uma criança. É incrível como os pequenos se divertem, desde que se sintam seguros ao lado de um adulto. Sempre gostei de andar de ônibus. Desde criança, eu aproveitava cada instante das viagens, principalmente quando ia com minha mãe. Ela tinha o maravilhoso costume de me contar histórias, para que eu esquecesse o enjoo que tantas vezes nos fazia descer do ônibus e esperar o mal-estar passar. As histórias da minha mãe eram ótimas. Às vezes me lembro de algumas, mas, infelizmente, a maioria se perdeu no tempo. Minha mãe tinha o dom de misturar realismo com magia e uma imaginação absurdamente fértil. Caramba, minha mãe era um universo à parte! Hoje pela manhã, ao me sentar perto da janela e sentir o sol aquecer meu rosto (tão bom!), me lembrei de uma daquelas histórias. Os olhos marejaram de saudade. O coração apertou com a lembrança do abraço apertado e do beijo estalado que ela costumava dar nas minhas bochechas. Era tanto amor naquele gesto que, às vezes, eu achava que iria explodir de alegria. Que saudade, mãe...

Comentários

  1. Você não perdeu o jeito de escrever. Confesso que eu não consigo mais motivação/inspiração para escrever. Porém,continuo adorando seus textos. Fico até com vontade de pegar um "busão" que dê para ir sentado e ler suas palavras.

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    1. E você continua gentil meu amigo. Feliz demais em saber que continuar a gostar dos meus escritos. Bom demais saber das pessoas sensíveis caminhando por aí. Fique bem, sempre!

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