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Pelas Janelas da Memória

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De tempos em tempos, precisamos de um pouco de aconchego e, por que não, de um tantinho de conforto ao nos deslocarmos pela cidade. Moro num lugar cheio de andantes, mas, numa cidade barulhenta, de carros buzinantes e motos ensurdecedoras, às vezes é preciso deixar de lado o prazer de caminhar e ocupar, com dignidade, nosso lugar de direito no transporte público. É fascinante entrar num ônibus. Sim, eu gosto! Mesmo quando ele está cheio de pessoas estressadas e cansadas ou com o ar-condicionado quebrado em dias de calor escaldante. Sempre há a chance de se aconchegar perto da janela e observar o mundo passar lá fora, ligeiro, como num passe de mágica. E, mesmo quando se viaja em pé, há aquela sensação meio boba — mas divertida — de estar numa montanha-russa sem cinto de segurança e sem hora certa para parar. É só você, a sorte de contar com um motorista experiente e calmo, e a esperança de pegar um trânsito razoável. É sério! Pode ser bem divertido, se você não estiver com pressa — e...

Companhia

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Foto:chatgtp/Tili Caminhar em solitude faz bem pra alma — mas nem sempre pro coração. Há momentos em que seguir ao lado de quem amamos, com quem escolhemos partilhar a vida, merece um cuidado mais demorado, mais presente. Seguir juntinhos, rindo, fofocando a vida alheia, falando dos filhos e suas miudezas cotidianas... ah, isso aquece até o coração mais atolado em cinzas. Hoje caminhei com meu amor de alma. Meu confidente, meu par na vida — inclusive nas causas perdidas. Nos atrasamos na saída... e que bom! Porque a espera de um pelo outro já se fazia desejo antigo. Nossa rotina, tão espremida entre os afazeres mecânicos e as poucas horinhas roubadas para uma série ou um filme, pedia — não, gritava — por mais tempo de cultivo desse amor que anda meio negligenciado pelos atropelos da vida. Os tempos andam sombrios, é verdade. Fumaças tóxicas rondam. O ar, curto. As doenças que batem nas portas das famílias. As mudanças físicas que o tempo vai desenhando nos corpos. E aquelas po...

Olhos em trânsito

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É possível caminhar com os olhos? Hoje me peguei pensando sobre isso, quando furtivamente olhava pela janelinha do transporte que utilizei para me locomover até o trabalho. Tenho sentido muita falta de minhas caminhadas matutinas, sempre em observação ao derredor e aos acontecimentos e detalhes impagáveis com que me deparava. Apesar do pouco tempo, a nostalgia é imensa. Sinto muita falta da incrível sensação dos raios solares em minha pele, dos ventos raros e refrescantes em meu rosto, do movimento das árvores deixando cair sobre mim suas pequeninas folhas, e até do cansaço ocasionado pelo calor do pequeno esforço com os quase dois quilômetros. Mas as vantagens do transporte hoje são muito grandes para que eu possa me dar ao luxo de abrir mão dele, e realizar uma caminhada que poderá me custar um tempo bastante produtivo de trabalho. Então… Está tudo bem! Eu só preciso de adaptação, só isso... Enfim, hoje vi que é um exercício bastante interessante, mas que exige técnicas de co...

Caminhar, salva!

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  Foto: Chatgpt Sabedora da dor de não caminhar, sou aquela que procura pelas brechas da vida algum momento em que meus pés possam, enfim, sentir o chão — e a gravidade agindo sobre ele. Muitas vezes me peguei pensando em como seria minha vida se algo acontecesse e eu não pudesse mais caminhar. Pois bem, nos últimos dias, em nome de um bem maior, foi preciso sacrificar meus momentos de caminhada em solitude. E, assim, nasceram pensamentos sombrios — e atitudes ainda piores. É provável, sim, que a terapêutica da minha caminhada faça diferença na personalidade que venho construindo ao longo dos anos — diabolicamente moldada, talvez, por uma genética caótica. Mas também é possível, ainda que soe como teoria conspiratória, que esses pensamentos e atitudes recentes estejam ligados ao cansaço do processo que vivemos em família, ou à alimentação desregulada. Afinal, é fato comprovado: o cérebro responde ao que o intestino absorve — vitaminas, nutrientes e o que mais vier. Enfim, o mistéri...

Braços e abraços

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Foto: Tili Oliveira - IA/Canvas Variantes de toques singelos, os abraços são encontrados em poucos pontos de uma boa caminhada. A vida que segue — e se entrelaça em nossos cabelos desalinhados, em caminhos apressados que vêm e vão — nem sempre dá as mãos, nem abraça aquele que se aproxima. Assim, abraços longos de enamorados, palmas espraiadas umas nas outras e dedinhos que se tocam com delicadeza acabam por nos tirar do foco da caminhada, apenas para roubar de nós um olhar furtivo lançado aos seus autores. As meninas, pequenas, amam dar-se as mãos. Crianças lindas, de inocência ilibada — ou mesmo aquelas já tocadas pelo mal — mantêm firmes os desejos de serem tocadas: por suas mães, avós ou por outras crianças. Enterneço-me com seus olhares assustados, mas felizes, ao me verem sorrindo para elas. Enamorados grudadinhos, seguindo juntos rumo a seja lá onde for, demonstram no olhar o desejo de mudar de direção e irem para algum outro canto, para curtirem juntos aquele momento indelé...

O que é um caminho de beleza?

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  Foto: Tili Oliveira Uma caminhada por uma estrada reta, com flores e árvores pelo caminho, pode nos trazer encantamentos e sugestões fantásticas que nos farão ficar um pouco mais felizes em nosso longo dia. Mas porque um caminho um pouco menos encantador não pode também nos trazer benefícios ou até mesmo satisfação plena? Às vezes caminhar pode se tornar um verdadeiro tormento e ao invés de belezas e curiosidades, podemos ter que enfrentar pedregulhos cinzas e buracos incômodos por todo o trajeto. Assim como o trajeto da vida, uma caminhada nem sempre poderá ser prazerosa e agradável, mas nem por isso devemos deixar de apreciar o caminho ou tirar o melhor proveito que ele possa nos trazer. Então o que poderia se apreciar num trajeto onde as ruas são tortuosas, com fios aparentes em comércios feios com paredes encardidas e pichações assombrosas? Simplesmente enxergar para além dessa paisagem concreta e feia. Olhe para as pequenas plantas que se erguem milagrosamente por ...

Árvores me seguem por toda a parte

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Caminhar é expressão de paciência e força. Força nas pernas e nas ideias. Força e coragem para seguir por lugares onde às vezes não queremos passar. A caminhada sempre se permeia de muitos obstáculos. Alguns pequenos, outros nem tanto. Alguns cheiram muito mal, mas outros, meu Deus, realmente causam horror. Com as árvores que encontro é diferente. Pra começar, não caminho por onde eu não as veja. Elas são minhas companheiras, minhas guias, meus refúgios, meus termômetros. A vida segue sempre seu rumo, mas o meu tem que seguir para onde eu possa encontrar as árvores.