Dores

Nada na vida é de graça. Sempre que recebemos alguma coisa, a vida, inevitavelmente, nos cobra o retorno. Da mesma forma, sabemos que tudo o que damos — ou desejamos — ao outro, de algum modo, sempre retorna para nós. Hoje, ao caminhar pelo mesmo trajeto de sempre, sentindo intensas dores articulares, pensei muito sobre isso. Será que nossas dores, na maturidade ou na velhice, são o acúmulo das nossas ações ao longo da vida? Será que as dores que, por bem ou por mal, impingimos a outras pessoas voltam para nos assombrar quando nos aproximamos do fim? Ou seriam essas dores o reflexo de todas as vezes em que maculamos nossa essência? Quando dissemos “sim” ao que, no fundo, queríamos recusar. Quando nos deixamos arrastar para lugares e sensações que não desejávamos. Quando sonhamos com algo grandioso, mas desistimos por parecer pouco rentável — ou por medo da reprovação dos nossos pares. Há muitas teorias — psicológicas, filosóficas, médicas e espirituais — para as dores inexplicáveis que nos atravessam ao longo da vida. Mas nem todas dão conta da profundidade com que essas dores nos limitam. A sensação de impotência que carregamos é, muitas vezes, mais dolorosa do que a própria dor física que precisamos suportar. Nossa alma, nosso espírito — penso eu — carregam, por tanto tempo, essa angústia silenciada que, ao fim e ao cabo, chega o momento em que eles nos sussurram: Chega. É hora de descansar.

Comentários

  1. Tem tanta coisa que dói... antes as articulações por causa da idade, por não desistir de fazer o seu caminhar, do que as dores que alguns sentem na alma, de tanta tristeza, amargura, abandono... dores tão fortes que paralisam, que impedem de fazer o caminho, que as impedem de se transformar.

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