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Mostrando postagens de fevereiro, 2025

Uma coisa de cada vez

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  Foto: Tili Oliveira Quando se pode caminhar, a vida é bem mais fácil, mas quando se pode correr aí a conversa muda de nível. Quando mais jovem eu amava correr. De criança eu fiz uma garotinha perspicaz e muito veloz. Corria muito, tinha muita pressa pra chegar, em qualquer lugar que fosse. Amava brincar de queimada, basquete, pega-pega, pular corda, tudo que envolvesse velocidade, cabelos voando na cara, ficar sem fôlego. Levei o amor pela corrida até o ensino superior, e depois, quando mais velha, continuei correndo como forma de relaxar. Quando num belo dia, jogando futebol, machuquei o joelho. Foi bem feio mesmo e nunca mais a corrida foi uma opção. Desde então eu caminho. Às vezes rápido, vez em quando mais ligeira, mas quase sempre lentamente. E, querem saber, a vida tem sido muito generosa, pois caminhar faz eu me encontrar com o meu verdadeiro eu. Sem a velocidade nas pernas, precisei me adaptar. Primeiro aprender a respirar direito; depois segurar o impulso de acelerar. D...

Passeando com as nuvens

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Caminhar se conhece apenas com o passar do tempo, afinal um caminho é mais amigo, tanto quanto você o conheça. Mas e se você passar a observar o céu e o movimento das nuvens durante seu caminho? O que será que você verá? Será que vai reconhecer esse tempo sempre que olhar para o céu? Será que as nuvens irão se transformar em algodão? Será que você vai cair e se machucar? Será que as pessoas irão te achar maluca? Ou será que irão começar a olhar para o céu também? Essa última pergunta é muito engraçada, visto que muitas vezes já aconteceu comigo. Amo ver os bichinhos que se formam entre um piscar e outro do sol e também aquelas estradinhas de pontinhos fofos se arrastando céu adentro. As nuvens são seres mágicos. Acredito nisso desde a minha mais tenra infância. Às vezes penso, olhando para as nuvens sob o chão que caminho, que o mundo seria muito mais bonito se as nuvens resolvessem morar definitivamente no chão. Já conseguem imaginar a neblina formando flocos de neve e algodão e agent...

Agora o sol

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Foto: Tili Oliveira Ao invés de correr por toda a via, em busca de absorver nacos de raios de sol aqui e ali, p referi me aquietar no banco central do parquinho infantil, fechando os olhos de forma resiliente. E ver quantas vezes era capaz de contar até que um pequeno raio me atingisse as têmporas. Estava atrasada, mas a tentação de ficar ali era tão grande, que fui permanecendo até que se passou o dia. Vieram os primeiros raios de luar, brigando com os últimos raios de luz do sol, e ali ainda estava eu, q uieta, incapaz de arredar pé. No ar um cheiro de pão-de-ló entorpecia os arredores e enchia meus pulmões. Aspirei fundo a mistura do cheiro de eucalipto das árvores com o cheiro doce e senti uma pequena pontada de fome percorrer minhas entranhas. Minhas pernas estavam dormentes, assim como minhas mãos estavam doloridas por apoiar firme no banco de cimento, mas à medida que o tempo esfriava eu me sentia ainda mais arraigada àquele local e não me atrevia a levantar. O moço da segurança...

Caminho se conhece andando

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Pelas manhãs, sempre caminho em direção ao transporte que me levará ao trabalho. Sm, há uma maneira mais confortável de fazer isso, que me faria evitar a caminhada, mas eu não quero isso. Meu corpo, meus pés, meus olhos pedem o horizonte conquistado com as passadas. Sempre foi assim. Quando na infância, ao ir para a escola, eu sempre escolhia o caminho mais longo. Em uma época em que a segurança para uma criança pequena era razoavelmente garantida, eu caminhava distraída, imaginando fadas e gnomos, árvores falantes, onde moravam seres etéreos, até chegar à casa de uma amiguinha com quem terminava a jornada até o colégio. Os anos passaram, e me tornei uma pessoa habilitada a dirigir um carro, mas as voltas do mundo me levaram por caminhos que quase sempre me permitiram, ou impeliram mesmo, a dispensar veículos automotores para continuar usando meus pés. O tempo passou, minhas articulações começaram a reclamar do esforço, mas ainda persiste em mim a vontade de seguir a pé pela vida afora...