Caminhar, salva!

 

Foto: Chatgpt

Sabedora da dor de não caminhar, sou aquela que procura pelas brechas da vida algum momento em que meus pés possam, enfim, sentir o chão — e a gravidade agindo sobre ele.

Muitas vezes me peguei pensando em como seria minha vida se algo acontecesse e eu não pudesse mais caminhar. Pois bem, nos últimos dias, em nome de um bem maior, foi preciso sacrificar meus momentos de caminhada em solitude. E, assim, nasceram pensamentos sombrios — e atitudes ainda piores.

É provável, sim, que a terapêutica da minha caminhada faça diferença na personalidade que venho construindo ao longo dos anos — diabolicamente moldada, talvez, por uma genética caótica. Mas também é possível, ainda que soe como teoria conspiratória, que esses pensamentos e atitudes recentes estejam ligados ao cansaço do processo que vivemos em família, ou à alimentação desregulada. Afinal, é fato comprovado: o cérebro responde ao que o intestino absorve — vitaminas, nutrientes e o que mais vier.

Enfim, o mistério sobre meu comportamento — peculiarmente abusivo nos últimos dias — persistirá, a menos que eu consiga acesso urgente a um bom analista, ou tenha alguma percepção filosófica genial que me permita entender, de fato, o que está por trás da minha atual raiva do mundo... e do meu companheiro também.

Ontem, forçosamente, caminhamos — eu e ele — rumo à nossa nova casa. No caminho, paramos no supermercado (algo que adoramos fazer juntos) e, no restante da noite, nossa sintonia voltou. Mesmo cansados, encontramos um tempo para refletir sobre os últimos dias e os estragos que têm causado em nossas pacatas vidinhas.

Foi libertador. E confirmou minhas suspeitas:

– Caminhar salva.

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