Olhos em trânsito

É possível caminhar com os olhos? Hoje me peguei pensando sobre isso, quando furtivamente olhava pela janelinha do transporte que utilizei para me locomover até o trabalho. Tenho sentido muita falta de minhas caminhadas matutinas, sempre em observação ao derredor e aos acontecimentos e detalhes impagáveis com que me deparava. Apesar do pouco tempo, a nostalgia é imensa. Sinto muita falta da incrível sensação dos raios solares em minha pele, dos ventos raros e refrescantes em meu rosto, do movimento das árvores deixando cair sobre mim suas pequeninas folhas, e até do cansaço ocasionado pelo calor do pequeno esforço com os quase dois quilômetros. Mas as vantagens do transporte hoje são muito grandes para que eu possa me dar ao luxo de abrir mão dele, e realizar uma caminhada que poderá me custar um tempo bastante produtivo de trabalho. Então… Está tudo bem! Eu só preciso de adaptação, só isso... Enfim, hoje vi que é um exercício bastante interessante, mas que exige técnicas de concentração que ainda me faltam, já que me distraio com muita facilidade com as intempéries que ocorrem o tempo todo dentro de um veículo de transporte público. Isso decorre de minha mania nata de observadora da vida quotidiana, mania impossível de se perder, mesmo com a idade. Alguns outros entraves além da curiosidade, podem também impedir a boa caminhada do olhar. Por exemplo, a rapidez com que o veículo se move, ao passo que os olhos precisam de um tempo maior de observação para poder fixar as imagens no cérebro. Esse é um problemão para mim!!! As paradas regulares ajudam um pouco, mas sabe que é durante o deslocamento que as coisas mais inusitadas acontecem? E aí, piscou, já foi. Hoje, ao observar um homem tentando apagar seu cigarro para entrar no transporte, precisei desviar o olhar dele para poder dar espaço a uma senhora que tentava sentar-se num banco preferencial. Resultado foi que eu perdi o homem de vista sem saber do desfecho de sua difícil tentativa de se livrar rápido da droga que, provavelmente num futuro breve, deverá causar a sua morte precoce. Que pena! Ali, naquele ponto, jaz um olhar observador, soterrado sob o barulho do motor e a pressa de um mundo necessitado de luz.

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